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Sobre a ética nas organizações: Diferença entre o trabalho em equipe e trabalho em conluio: a origem. Parte 1

Sobre a ética nas organizações:

Diferença entre o trabalho em equipe e trabalho em conluio: a origem.

 Parte 1

 Por: Hermom Leal

                                                                                              “Dois homens juntos são mais felizes que um isolado, porque obterão um bom salário de seu trabalho.” Eclesiastes 4:9

 O trabalho em equipe é uma das aptidões mais necessárias e destacadas na maiorias das atividades profissionais que envolvem grupos, equipes, e estruturas hierárquicas instruídas por regimento, estatuto, organograma ou fluxograma de cargos e funções. Estruturas organizacionais triviais como a família, por exemplo, para sobreviver minimamente bem aplicam princípios básicos do trabalho em equipe como a divisão de tarefas, cooperatividade, comunicação, cadência, interatividade, etc.

Os principais programas de gestão de qualidade, a exemplo das Normas de Gestão de Qualidade ISO, trabalham com o conceito básico do Ciclo PDCA – Plan-Do-Check-Action cuja plataforma está no compromisso direto e na sinergia entre membros da organização. O planejamento de metas, a ação conjunta e organizada, a supervisão e o ajuste e correção das falhas são imprescindíveis para qualquer ação produtiva coletiva ou individual.

Para este contexto são necessários que os atores atuem em conjunto sob a uma ou mais lideranças. O líder além de exercer a direção da equipe, tem função de coach, treinador da equipe, que organiza, estimula, testa, supervisiona, inspira e prepara sua equipe para os desafios que o grupo enfrentará buscando assim induzir sua equipe à proatividade, iniciativa, responsabilidade até o momento em que as coisas aconteçam organizadamente, de forma automática e sistêmica, podendo assim identificarmos neste grupo uma cultura organizacional.

Muito se fala de trabalho em equipe inclusive nos próprios ambientes acadêmicos, local principal de ensino desta técnica como ferramenta de trabalho. Mas pouco têm-se aplicado neste ambiente que é seu nascedouro natural e local de reflexão. Especificamente e em tese, o(a) professores(as)(a) deve colocar em prática sua própria teoria diferentemente de modelos de pedagogia centralizadora baseadas e práxis de ensino personalíssima que imprimem uma dinâmica individualista em sala de aula evidenciada por sua dinâmica do tipo quadro (power point), giz (pincel), saliva(mídia audiovisual). O receptáculo do conhecimento (aluno) , – neste caso – continua sendo um mero reprodutor de conteúdos que objetivem garantir sua nota (média para aprovação, em geral) desde que reproduza ipsis literis aquilo que foi ministrado expositivamente. Mas onde fica a formação para o trabalho em equipe, a formação de lideres, de gestores e agentes que visem promover de fato a mudança em suas atuais ou futuras organizações?

Por mais trivial que pareça a resposta é uma questão de ética. Sim! Afinal de quem é o dever de ensinar e aplicar e de quem é o dever de aprender e aplicar? A resposta é: de professores(as) e alunos(as). No entanto, a ausência de ética nesta primeira organização de preparo da vida profissional inicia-se sem ética. Sim a falta de ética entre alunos e professores(as) e vice-versa.

Quando um(a) professor(a) se restringe a aplicar seu conteúdo, sua ementa e testar através de um sistema de avaliação básica, ele está sendo isto mesmo: mero(a) professor(a). Um educador vai além, pois sua relação não é meramente comercial (bico) ou trabalhista (complementação de renda, aposentadoria, status), é antes de mais nada ideológica. O verdadeiro ensino não se molda à mediocridade de contratos de trabalho e cumprimento de carga horária que dificilmente são cumpridos em estruturas menos organizadas. Alguém poderia dizer que o cumprimento do horário de aula como foi contratado pelo aluno(a) (cliente) tornaria o ensino engessado, ou que seria improdutivo manter alunos(as)s que não gostariam de estar no ambiente por n motivos como trabalhar o dia inteiro e estar cansado, possibilidade de perder o ônibus, a violên cia aos arredores, ou alguns motivos mais promíscuos: sabotar o(a) professor(a) para que não cumpra a contento seu conteúdo e cobre menos na avaliação. Mas, perguntemo-nos, esta é uma questão de ética? A resposta é: inequivocamente sim.

A faculdade é o lugar onde oficialmente deveria se aprender ética e o primeiro a desprezá-la, deixá-la e colocar em prática primeiramente através do ensino ministrado aquilo que é não ético. O desprezo ao bom costume, ao regimento, ao código ético de docentes e discentes é o primeiro ato da formação de uma geração estudantil antiética ou eticamente relativista. Prova disto é o conluio entre professores(as) e alunos(as)s.

A relação aluno(a)-professor(a) em muitas instituições educacionais passou a ser definida pela palavra collūdĭum,ĭi, do latin, que conforme Cynthia Amaral em seu Vocabulário Jurídico, significa jogo, entendimento e combinação maliciosa entre duas ou mais pessoas com o objetivo de enganar uma terceira pessoa, ou de se omitir ao cumprimento de uma lei. Esse contrato feito entre professor(a) e aluno(a) ou entre professor(a) e coordenador de curso, pode basicamente ser expresso por aquela máxima bastante conhecida no ambiente acadêmico que define ambos como aquele(a) “professor(a) que finge que ensina e aluno(a) que finge que aprende”, estabelecendo o atual pacto da mediocridade entre alguns(mas) professores(as) e alunos(as), o que isenta ambos de maiores atritos ou contratempos: o aluno(a) recebe sua nota (média para passar na matéria) e o(a) professor(a) recebe seu salário em dias.

Eis a fórmula e a origem do mal para qualquer organização: o conluio, que começa nas relações alunos(as) -professores(as), alunos(as)-alunos(as) (cola), professores(as)(a)-professores(as)(a) (política, poder, aumento de salário, visibilidade, etc) e que se estende a todo e qualquer relação que vise um objetivos genuinamente benéficos para o indivíduo ou para a coletividade. O conluio é a antítese da essência do trabalho em equipe, pois a sua associação é o proveito individual ou coletivo praticado através de contravenções que ferem a boa-fé, e que serão reproduzidos nos lares, nas empresas, na vida pública e em qualquer ação do indivíduo que se imergiu culturalmente em práticas cotidianas que tornam difícil resultados produtivos nas diversas áreas da vida.

Para a parte dois deste artigo buscar-se-á definir como a ausência de princípios básicos do trabalho em equipe e suas distorções afetam o desempenho das organizações, do ambiente coletivo e do indivíduo e cria uma relação ora de subserviência, conspiração, das ações obscuras e outros males nas associações.

Autor:

Hermom Leal Moreira, Me. Eng. É doutorando pela POLI-USP/SP em Engª Elét., mestre pela UNESP-Ilha Solteira/SP em Engª Elet, pós-graduado em Engª de Seg. do Trab. pela UNIC/MT, Engº Elet. e de Telecom pela UFMT, e eletrotécnico pelo SENAI-SP. Atuou como Menor aprendiz e ½ Oficial Eletricista na MOPA – Eletromecânica/SP – 1997 e ILSA – Alimentos/MT - 2000, como Engº Elétrico e de Telecom na DSS – Engenharia e Telecom/MT – 2007, com Engº de Seg. do Trab. na SADIA S.A./MT – 2008 e MARFRIG Group/MT – 2008, Instrutor do SENAI-MT – 2008-2009, como Professor no Magistério Superior na UNIP-MT – 2009, UNIC-Kroton/MT, 2009-2014, como Perito Judicial no TRT 23ª Região/MT – 2011 até o momento. Atualmente é pesquisador/estudante de doutorado, professor universitário de graduação e pós-graduação desde 2009 e atua como pesquisador, projetista e consultor autônomo nas áreas de engenharia e educação superior. Hermom Leal Moreira, Msc. Eng.

4 comentários em “Sobre a ética nas organizações: Diferença entre o trabalho em equipe e trabalho em conluio: a origem. Parte 1

    1. Olga, sem querer se raso demais, acho que é basicamente isto! Um educador não pode ser comparado a um operador de linha de produção, não porque um seja melhor do que o outro humanamente falando. O que os diferenciaria seria o objetivo e resultado de sua atividade. Enquanto um produz um bem, inanimado, de consumo, o outro orienta um ser. Acho que em suma o que diria Paulo Freire: Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.

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